Os ensaios que algumas seleções nacionais realizaram nos últimos dias foram também aproveitados pela FIFA para preparar os árbitros que potencialmente poderão desempenhar as funções de VAR no próximo Mundial da Rússia.
Foi assim nos dois jogos particulares que Portugal realizou – primeiro contra o Egito e depois com a Holanda – e em muitos outros disputados nos quatro cantos do planeta.
A aprovação definitiva da vídeo-tecnologia ocorreu no passado dia 3 de Março, após reunião anual do International Board.
Passados dois anos de testes realizados em mais de vinte competições e associações nacionais, o IFAB chegou à conclusão que o apoio daquela ferramenta tornou o futebol num jogo mais justo e verdadeiro.
Para isso contribuiu (e muito) o relatório final entregue pela Universidade KU Leuven (da Bélgica), responsável pelo rigoroso acompanhamento dos quase mil jogos testados ao longo daquele período.
Com base nos dados divulgados, a FIFA – ilustre representante do Board e defensora acérrima do sistema – decidiu, por unanimidade, utilizar o Videoárbitro no próximo Campeonato do Mundo. A reunião, que decorreu poucos dias depois em Bogotá, apenas validou o que todos já sabíamos: que o próximo Mundial teria VAR.
De entre os muitos “Árbitros VAR” pré-designados para essa competição, estão dois nomes portugueses: Artur Soares Dias (Porto) e Tiago Martins (Lisboa).
A expectativa é grande e espera-se que ambos ou pelo menos um dos dois possa representar a nossa arbitragem naquela que é a maior competição mundial disputada por seleções nacionais.
No jogo que Portugal disputou com a seleção africana, pode dizer-se que o VAR obteve nota (quase) máxima.
Aí e em duas situações distintas, a vídeo-intervenção corrigiu dois erros claros e evidentes, que foram mal analisados em campo pela equipa de arbitragem: primeiro um golo de Rolando, validado como legal e depois corrigido por fora de jogo (que efetivamente existiu) e depois o tento de Ronaldo (inicialmente anulado por fora de jogo que o videoárbitro detetou – e bem – não ter ocorrido).
Em ambos os casos foram ratificados dois lapsos graves, dando justiça ao jogo e à verdade desportiva.
Essa correção confirma uma das grandes conclusões que a universidade belga já tinha chegado: a de que quase 60% dos lances revistos referem-se a situações de golo ou lances de penálti. As restantes situações previstas do protocolo – cartões vermelhos diretos ou troca de identidade disciplinar – ocorrem em menor número.
Já agora e a título de curiosidade, acrescente-se que quase 70% dos 972 jogos escrutinados não tiveram decisões iniciais revertidas. Houve “verificações automáticas” (obrigatórias, por exemplo, após cada golo, expulsão ou pontapé de penálti assinalado) mas sem que destas resultasse alteração da decisão inicial.
Outro dado curioso é o de se ter concluído que apenas 9% dos jogos (menos de 90 partidas) terminaram com influência direta do VAR. Em todos os outros, prevaleceu a decisão que os árbirros tomaram em campo.
A vídeo-tecnologia veio para ficar e isso é indesmentível. Aquilo que hoje é uma série compreensível de pontos de interrogação, será, daqui a uns anos, algo comum, normal e assimilado por todos.
A UEFA ainda mantém naturais resistências à sua utilização e percebe-se porquê: não está em causa a fiabilidade do sistema ou a sua importância para a prossecução da verdade desportiva, mas a gestão prática dessa ferramenta. O organismo que tutela o futebol europeu organiza muitos milhares de jogos por época, de várias competições e em vários países, o que tornaria a sua aplicabilidade no terreno um verdadeiro pesadelo logístico, operacional… e financeiro.
Fotos: Tribuna Expresso