1. Os três grandes estão cada vez maiores
Em termos competitivos, a Primeira Liga portuguesa continua a ser um verdadeiro desfile para os chamados “três grandes”. Tal como acontece há dezenas de anos e à semelhança do que também vai acontecendo noutras paragens, Porto, Benfica e Sporting passeiam a sua supremacia, evidenciando superioridade inabalável face aos seus opositores. A diferença pontual é abismal: trinta pontos entre o atual líder e o quinto classificado. Trinta pontos! No lado contrário, acontece precisamente o oposto. A luta pela sobrevivência é enorme e apenas nove pontos separam os últimos… nove classificados.
Há muito que se percebeu que o nosso futebol teria tudo a ganhar se concretizasse medidas no sentido de o tornar mais equilibrado e competitivo. Ganharia emoção e levaria a crença de vitória a novas paragens, o que resultaria no renascimento de cidades que hoje são fantasmas no panorama futebolístico. Teríamos mais jovens do interior a jogar à bola, mais adeptos espalhados pelo país, mais investidores locais e muito mais interesse desportivo. A pergunta já não é se essa mudança seria benéfica. A pergunta é… estarão as partes interessadas em avançar com medidas que beneficiem o todo?
2. Tiago Silva e Vagner
São apenas dois entre vários profissionais cuja dignidade e honestidade foram agora colocadas em causa. Esta coisa de atentar contra a honra, idoneidade e competência de muita gente é uma moda recente e transversal. Toca a árbitros, dirigentes, jornalistas e até comentadores. Os detratores são assim: não se importam com o que se passa no relvado, porque a sua missão de vida é tentar destruir o que gira em torno dele. Andam sempre à procura de uma oportunidade para fazerem o que mais gostam: tentar condicionar a independência de opinião dos outros. Porque para eles não basta discordar, não basta pensar diferente, não basta dizer “não tens razão”. Importante mesmo é desestabilizar, descredibilizar. Atingir.
Essa classe emergente, que nunca acrescenta valor, que nunca apresenta soluções nem propõe alternativas, precisa de conflito permanente. Precisa de chocar de frente, de provocar, de espicaçar. Só isso a alimenta. Nao concebe a vida a co-existir com a diferença, a lidar com a diversidade, a respeitar o espaço de pensamento de cada um. Inveja-o. E isso, no fundo, é triste, dá pena e merece a nossa tolerância. A nossa compreensão e bondade.
No entanto e neste caso concreto, importa sublinhar que Tiago Silva e Vagner não são apenas dois enormes atletas. São dois seres humanos de exceção. Dois homens, dois chefes de família, dois filhos, pais e maridos de alguém. Não pode valer tudo para ganhar fora de campo.
3. Quando o futebol protege o crime
O futebol português tem muitos bons adeptos, mas a verdade é que serve também de abrigo a vários delinquentes que vêem nas claques/grupos organizados uma forma de exercerem “a sua atividade” com (quase) total impunidade. Esses não vão ao futebol para puxar pela sua equipa ou para celebrar vitórias. Vão porque sabem que lá podem insultar, assustar e bater.
No último fim de semana, vários petardos rebentaram em pleno relvado, colocando em perigo a integridade física de Caio Secco, guarda-redes do Feirense. Choveram isqueiros e outros objetos, num espetáculo deplorável, já visto noutros palcos, com outros protagonistas. Já se perguntaram como é que isso nunca acontece num estádio da Premier League, que tem adeptos cujo comportamento fora de portas é conhecido por ser do pior que há? Já se perguntaram como é que o futebol inglês erradicou dos seus estádios, hooligans, arruaceiros e criminosos? Já se perguntaram porque é que esses estádios não têm quaisquer tipo de vedações e mesmo assim, nunca são palco de invasões de campo?
Nada acontece por acaso. Por vezes é preciso sujar as mãos para lavar o corpo e alguém tem que ter a coragem de o fazer.