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Tiago Martins

Tiago Martins

No final do jogo que dirigiu na passada jornada, Tiago Martins terá escrito, no seu relatório, que foi atingido por um objeto arremessado das bancadas. Segundo a imprensa, foi entretanto levantada a possibilidade do internacional português ter mentido no boletim de jogo.

Se isso tivesse acontecido, não estaríamos a falar apenas de algo muito grave. Estaríamos a falar de uma atitude maliciosa, porque só alguém sem caráter poderia inventar uma ficção assim, tão feia e desnecessária. Seria até um ato insano porque, nos dias de hoje, os árbitros são analisados à lupa, em tudo o que fazem dentro e fora do campo. Há câmaras e mais câmaras, ângulos e mais ângulos, zooms e mais zooms.

Passará, por isso, na cabeça de alguém que uma pessoa sob esse escrutínio, com essa responsabilidade e estatuto, arriscasse algo assim? Passará pela cabeça de alguém que um árbitro FIFA, de reputação imaculada até à data e em crescendo na carreira, fizesse esse papel, em nome sabe Deus do quê?
Sem prejuízo das decisões que tomem no relvado, os árbitros têm o dever moral e a obrigação regulamentar de dizer a verdade quando elaboram o seu relatório de jogo. O que ali é escrito tem de ser o retrato fiel do que aconteceu. Acreditem quando vos digo, o Tiago Martins – homem que conheço há 20 anos, que vi crescer e chegar ao topo – era incapaz de algo assim. E sem prejuízo de qualquer esclarecimento (importante e necessário) que venha a ser apurado nesta matéria por quem de direito, queria deixar bem clara esta opinião.

Durante a minha carreira, posso assegurar-vos que fui atingido por moedas, berlindes, bolas de golfe, pilhas, baterias de telemóvel, pedras e pedrinhas. Era sempre tudo tão rápido e fugaz que, no caso dos objetos mais pequenos, quase ninguém via. Ninguém via nem sentia… a não ser eu. Um dia, no intervalo de um Moreirense-Aves, aconteceu-me exatamente o mesmo: ninguém viu a pequena moeda atirada na minha direção. Só viram, depois, o sobrolho aberto e o olho a sangrar abundantemente. Mal o menos. Se não fosse por aí, provavelmente teria passado por desonesto ou mentiroso (a propósito, fazia anos nesse dia).
Em tantos outros momentos, do aquecimento às saídas do relvado, a quantidade de objetos que arremessam aos árbitros (e não só) é inenarrável. Não há nenhuma imagem que lhes faça justiça. É preciso estar lá, para sentir a pancada ou perceber que não nos apanhou por pouco.

É importante que se tenha em mente: em campo, os árbitros acertam e erram. São mais ou menos competentes. Têm mais ou menos qualidade. A sua atuação técnica pode e deve ser analisada, elogiada ou criticada. Mas a ideia de que possam inventar hematomas ou mentir para prejudicar terceiros é injusta. Coloca em causa a pessoa, a sua integridade e idoneidade.

O futebol português dispensa mais poeira desta. Ou não?

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