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Sopram ventos de mudança

Sopram ventos de mudança
Não sei se já perceberam, mas nos últimos tempos parece haver uma tendência crescente de se tentar tornar mais respirável o ar que gira em redor do futebol. Há, de um modo geral, um ambiente mais saudável, uma energia mais positiva e isso é salutar. Muito salutar.
Estes sinais de mudança vêm um pouco de todo o lado. São transversais a todas as categorias e escalões e surgem pela boca de vários agentes desportivos. Dos mais mediáticos aos menos conhecidos, dos mais expostos aos mais escondidos.
Exemplos positivos não faltam: Sérgio Conceição prometeu (e cumpriu) quando, a dado ponto da época passada, disse que não comentaria mais o trabalho das equipas de arbitragem; Ivo Vieira e Carlos Carvalhal, do Vitória SC e Rio Ave FC respetivamente, têm tido postura idêntica no presente; Bruno Lage e, já antes, Marcel Keiser, alinharam, quase sempre, no mesmo diapasão.
Estamos a falar de treinadores cujo impacto exterior é francamente elevado. Treinadores cujo peso de cada palavra, cujo alcance de cada elogio ou crítica podem influenciar, positiva ou negativamente, o comportamento, postura e discurso de muitos milhares de adeptos.
Mas, para além destes, há até à data outros excelentes exemplos de como se deve estar no futebol: não se têm visto, por exemplo, canais oficiais ou oficiosos de emblemas fortes a produzirem declarações verdadeiramente bombásticas ou altamente inflamatórias; não se tem assistido a “bate-bocas” desrespeitosos, trocados em plena praça pública, por parte de quem tem responsabilidade direta no jogo; e, recentemente, não há notícias de comportamentos pouco éticos ou menos claros de quem quer que seja.
Que se mantenham estas boas práticas de quem tem, de facto, o poder de acalmar as hostes e serenar o ambiente. É preciso não esquecer que os adeptos (e não só) são altamente influenciáveis perante o que vêem, lêem e ouvem.
Mas se é verdade que a alta competição tem seguido este caminho, não é menos verdade que mais abaixo – onde mora a base de tudo (futebol amador, regional e de formação) – as coisas parecem também estar a entrar nos eixos.
São às centenas os clubes que tentam, quase desesperadamente, instruir jogadores e pais sobre qual deve ser o comportamento esperado em campo; há várias ações a decorrer, para sensibilizar protagonistas e adeptos sobre as melhores práticas a adotar; e não faltam campanhas locais e nacionais que visam difundir o fairplay e apelar ao fim da violência no desporto.
Parecem haver, de facto, duas predisposições valiosas: uma para disseminar largamente o melhor dos valores no desporto; a outra para aceitar essas linhas orientadoras, em detrimento de comportamentos erráticos que nada contribuem para a evolução do jogo.
É certo que a procissão ainda vai no adro e muita tinta irá correr até ao final da época, mas a primeira imagem é esta, de eventual redenção, de aparente mudança de rumo, de esperança que as coisas sejam bem melhores do que foram num passado recente.
Se queremos um produto de valor temos que lhe dar valor. O discurso elevado, a postura sóbria e o respeito institucional não anulam o direito à crítica e à legitimidade de reclamar, em sede e de modo próprios, a razão que achamos que nos assiste. Pelo contrário. Apenas o reforça.
Não há flor que cresça em terreno pantanoso. Que seja sempre assim, nos próximos meses, nas próximas épocas.
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