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Regresso à normalidade

Regresso à normalidade

A última jornada do Campeonato de Portugal ficou marcada por incidentes graves no final do Sanjoanense-Canelas.
Felizmente para nós, as imagens do que aconteceu dentro e fora do Estádio Conde Dias Garcia vieram parar ao mundo virtual. Vêm sempre e é bom que os malandros se habituem a isso.
Para esta reflexão, a que hoje volto a propor, pouco importa quem começou, como ou porquê. A gravidade dos factos será analisada, por quem de direito, de forma que, não duvido, será justa, célere e eficaz.

Mais importante é centrarmos a discussão na base. Nas premissas habituais:
– Porque é que o desporto português continua a ser ensombrado por situações destas? Porque é que, de vez em quando, somos surpreendidos com vídeos que mostram agressões, ameaças e ofensas em locais onde tinha que imperar exatamente o oposto, alegria, diversão e entretenimento? Porque é que a rivalidade com o opositor tem que ser vista como um ataque a um inimigo? Porque é que um adversário não pode ser simplesmente… um adversário? Porque é que maltratar, perseguir e agredir parece ser mais importante do que aceitar, tolerar e respeitar? Porque é que se continua a permitir que agressores e crianças coabitem no mesmo espaço, quando a influência (e perigo real) dos primeiros pode ter consequências devastadoras a curto/longo prazo sobre os segundos? Porque é que ninguém consegue descobrir uma forma eficaz de evitar que imagens como as que vimos em São João da Madeira se repitam constantemente? Porque é que, por muito que se insista, somos incapazes de mudar regulamentação no sentido de penalizar exemplarmente quem incorre em crimes lesa-futebol/desporto? Porque é que continua a haver escassez de legislação que puna severamente quem comprovadamente não pode entrar num recinto desportivo? Porque é que a perceção pública – a que existe cá fora – é a de que este tipo de assuntos são, para quem pode verdadeiramente mudar o rumo das coisas, um verdadeiro pain in the ass, um tema chato e incómodo que pouco importa resolver e atacar de vez? Porque é que não são (nos casos em que isso se justifique) os próprios clubes a condenar atos ilegais dos seus adeptos, como recorrentemente se faz em Inglaterra e até em Itália (exemplo: Juventus)? Porque é que todos nós sabemos que situações destas (e piores) irão repetir-se ao longo desta época, sem que nada de efetivo surja para melhorar estruturalmente o rumo das coisas? Porque é que continuamos a ser pequeninos quando temos que agir com convicção e grandes quando auto-elogiamos os nossos feitos desportivos? Porque é que a opinião pública acha que há receio em tomar decisões que possam afetar estruturas com poder? Quem/como lhes foi incutida essa ideia de descrença? Porque é que a burocracia inerente às grandes mudanças é, quase sempre, a justificação repetida para as não mudanças?

Estamos tão mal habituados, meus amigos. Tão mal habituados.
O caminho é só um, não tenham dúvidas: denunciar. Expor. Criticar. Fazer barulho quando o barulho se justifica. Doa a quem doer.

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