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Recrutar lá fora

Recrutar lá fora

O Benfica lançou a ideia de recrutar, para os seus jogos e jogos do FCP, árbitros estrangeiros até ao final da época. O repto não é novo (a ideia de intercâmbio foi lançada por Vitor Pereira) e é prática recorrente em campeonatos de reputada categoria como o nosso. É assim, por exemplo, no Irão, Arábia Saudita, Bahrein, Grécia, Qatar, entre outros. Na prática, isso tem acontecido não para permitir enriquecimento e partilha mútua de experiências – o espírito subjacente ao tal intercâmbio – mas porque os responsáveis dessas ligas entendem que os seus árbitros não têm maturidade, experiência competitiva ou, pior, idoneidade/seriedade para arbitrar os seus jogos.

A ideia não me choca (de todo), tal como o seu oposto: e se os árbitros portugueses “exigirem” o mesmo? Arbitrar apenas clubes estrangeiros? Claro que, por uma questão de equidade e adaptação, apenas aqueles de idêntica média qualitativa. Mas, honestamente, não me chocava ver jogos do Ludogorets, Maribor ou Qarabag dirigidos pelos nossos juízes.

Seria “win, win”, reparem: as equipas portuguesas – as dezoito, porque numa competição igual não pode haver tratamento desigual – passariam a ter arbitragens perfeitas, de integridade imaculada e totalmente imunes à pressão. Já os nossos árbitros enriqueceriam o seu currículo, cresceriam em experiência e jamais se chateariam por ofensas dirigidas em búlgaro, azeri ou esloveno.

A ideia podia até estender-se a outros níveis. Porque não também um intercâmbio de adeptos? Mandávamos para Londres e Manchester os que atacam o próprio clube, atropelam e matam pessoas, atiram petardos e tochas, partem e arremessam cadeiras, vandalizam casas, carros e estabelecimentos comercias, penduram bonecos de árbitros e jogadores em viadutos, dão pontapés em dirigentes, invadem centros de estágio, agridem atletas e árbitros, cospem, humilham e coagem meninas com apenas 16 anos, partem e destróem tudo por onde passam, lançam o pânico em permanência e (só um segundo, para recuperar o fôlego) recebíamos em troca aqueles que a Sra Thatcher e a FA conseguiram domesticar com medidas firmes, corajosas e musculadas. Seria giro, não seria?

Esperem, esperem. E se também trocássemos de jogadores? Despachávamos os que se atiram para o chão a toda a hora e que dão porrada de propósito, os que se agarram à cara quando sofrem toques nos braços, os que potenciam conflitos em permanência, os que protestam, esbracejam e barafustam sistematicamente, os que rodeiam e coagem árbitros e árbitros assistentes, os que fazem faltas violentas e mergulham para as áreas. Ficávamos só com os profissionais de verdade (são muitos, felizmente).

A única coisa que eu não trocaria era de responsáveis, departamentos de comunicação, empresários, agentes e afins. Deus me livre. Por aí estamos muito bem servidos, temos os melhores do mundo. Seria um disparate (um crime até) ambicionar mais e melhor.
Haja limites.

 

Artigo publicado no “Jornal A Bola”

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