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Preparem-se meus amigos

Preparem-se meus amigos

Preparem-se, meus amigos, porque o vírus vem aí e vem em força: “A culpa não foi nossa, fomos roubados como sempre”

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Preparem-se, meus amigos, preparem-se porque o vírus vem aí e vem em força.

O campeonato está ao rubro e a malta dos teclados, comunicados e avenças não tem mãos a medir.

Até meados de maio, haverá trabalho redobrado, horas extra e muitas, muitas noites em branco.

Honra a estes operários de mão suja que, em conjunto com a turminha das redes e com a trupe de coisos que os segue, tentarão acrescentar ao jogo toda uma realidade paralela.

Uma realidade onde não faltarão teorias de conspiração, delírios persecutórios e sequelas do já clássico “a culpa não foi nossa, fomos roubados como sempre”.

Honra a tamanha devoção. À devoção de uma causa desviante, produzida e realizada por quem não hesita em vender a alma ao diabo. Não deve ser fácil vestir a pele de mau da fita, mas essa só veste quem quer. Certo?

E perguntam-me vocês: tanto trabalho para quê? Bem… para poluir, confundir e baralhar. Para chatear, perturbar e incendiar. What else is new?

Lá fora, nos campeonatos maiores, acontece exatamente a mesma coisa: os grandes colossos do futebol europeu e mundial usam exatamente a mesma estratégia e com os mesmos fins (LOL… não resisti, peço desculpa).

Por cá, prevejo (com pessimismo acentuado) a escalada do “vale tudo”, onde a guerra de palavreado – imune às cócegas de um regulador de mãos atadas – irá sustentar-se numa criatividade cada vez mais perversa, mesquinha e maliciosa.

Uma criatividade que corre o sério risco de vencer a única verdade que devia prevalecer: a que acontece dentro das quatro linhas, nos noventa minutos de jogo.

As odes ao populismo e os incentivos à perturbação são formas seculares de atuação, mas a verdade é que mantêm a eficácia dos velhos tempos: é que o Zé Povinho tende a agarrar muito mais o que lê, vê e ouve do que o que intui, deduz e pensa pela sua própria cabeça. É estranho, não é?

Pelo meio, haverá naturalmente quem distinga ficção de realidade, insanidade de verdade. Esses serão sempre alvos a abater. É que o pessoal dos qwerts, baits, tablets e PCs não está habituado ao contraditório nem gosta do atrevimento. Está habituado a expor mas detesta ser exposto. É chato.

BEM, MAS SENDO ASSIM, O QUE VEM AÍ ENTÃO?

Mais do mesmo: discursos bélicos, parada e resposta e puro incentivo ao ódio, disparados para o inimigo de sempre e justificado nos suspeitos do costume. Tudo, claro, assente num discurso moralista e orientado para a “verdade desportiva” (sai mais um LOL?).

Venham então daí as lengalengas sobre os penáltis mal assinalados (para os outros) e os que ficaram por assinalar (a favor).*

*Nota: não confundir com os penáltis atirados para as nuvens ou com aqueles que os postes devolveram, porque esses não são erros relevantes para o resultado, são coisas que acontecem a qualquer um.

Venham daí os vermelhos por exibir (aos outros) e os vermelhos mal exibidos (aos nossos).**

**Nota: não confundir com condutas grosseiras, entradas violentas ou palavrões ordinários que escaparam à punição, porque essas não são falhas relevantes, o homem também não pode ver tudo.

Venham daí os amarelos mal mostrados (aos nossos) ou os que ficaram por exibir (aos outros).***

***Nota: não confundir com reincidência de infrações, cotoveladas malandras, protestos desvairados e condutas irresponsáveis que escaparam ao juiz, porque esses equívocos fazem parte e só não erra quem não toma decisões.

Venham daí as contas sobre pontos mal perdidos (a favor) ou pontos mal ganhos (pelos outros).****

****Nota: não confundir com empates/derrotas por falhanços inacreditáveis, auto-golos evitáveis, frangos épicos, passes errados, falhas primárias e má abordagem tática, porque essas não são coisas realmente impactantes, são pequenas falhas inerentes à condição humana.

Ah, futebol, futebol… como tu és único.

Sentem-se na fila da frente. Comprem pipocas e aguardem uns dias. O filme está quase, quase a (re)começar. Na falta de melhor, é ver este. Outra e outra vez.

 

Artigo publicada na Tribuna Expresso.

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