Perguntam-me com frequência como é que os árbitros permitem e toleram algumas palavras “impróprias” dos jogadores, tantas vezes apanhadas pelas câmaras de televisão.
A minha resposta é sempre a mesma: os jogadores, verdadeiros artistas do jogo, são o melhor que o futebol tem. E são-no por várias razões.
São eles que oferecem o talento, a magia, a qualidade e a emoção ao jogo. Aos adeptos. Ao mundo.
São eles os predestinados. Os craques. Os artistas.
São eles que fazem a diferença. São os responsáveis pelo valor acrescentado deste desporto e desta indústria fantástica.
Todos os que os rodeiam, árbitros incluídos, são apenas e só pessoas empenhadas e dedicadas, que têm por missão permitir que eles brilhem nas melhores condições.
Os jogadores entregam o corpo e a alma, em campo. Têm rasgos de genialidade, marcam golos soberbos e fazem defesas do outro mundo.
São as referências dos mais jovens. No corte de cabelo, na forma como se equipam, na cor das botas que calçam.
Não se estranha, por isso, que sobre eles recaia pressão constante. Física e anímica. Emocional.
Eles levam pancada, sujeitam-se a lesões gravíssimas, correm kilómetros, esforçam-se, cansam-se. Dão tudo em campo.
Têm um lugar para manter na equipa, no onze titular.
Querem agarrar a oportunidade de mostrar que têm talento. Querem renovar o seu contrato ou merecer a atenção de outros clubes. Têm que lutar diariamente contra a salutar concorrência dos seus colegas. Têm sonhos para concretizar.
Por isso, muitas vezes, cedem.
Desabafam. Deixam escapar a voz da emoção. Aqui e ali, dizem o que não querem e que não os define. Discordam de forma… excessiva.
Debitam, com raiva pontual, a linguagem que o futebol aceita e que o calor do momento permite.
Sentem-se muitas vezes injustiçados por um lance que o árbitro analisou mal ou não entendem, com o calor do momento, que ele possa ter decidido bem.
Raramente o jogador ofende. Raramente é rude, mal educado ou excessivo na linguagem. Quase sempre o “palavrão” é a voz do coração a fazer-se ouvir, não a maldade deliberada em ofende.
A linha entre o desabafo e a injúria é ténue e bem definida pelo árbitros. Não pela opinião pública ou pela descontextualizada imagem da televisão.
São eles que estão lá, a testemunhar, a viver e sentir cada momento. Cabe-lhes a tarefa de definir limites, de desvalorizar o aceitável e de ser implacável perante o inadmissível.
Respeitar um jogador é permitir-lhe “ser gente que sente” num contexto por vezes muito difícil.
Fica o esclarecimento, justo e merecido. E na próxima vez que a TV mostrar em grande plano o tal palavrão, percebam que quase sempre é só emoção.