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O jogo do empurra

O jogo do empurra

O hooliganismo – que pode ser descrito como o comportamento violento, desordeiro ou destrutivo de alguns adeptos nos estádios – tem sido um dos temas da atualidade.

O que aconteceu em Guimarães e Alvalade foram apenas manifestações recentes de condutas criminosas que há muito passeiam impunidade nos estádios portugueses.

O fenómeno não é apenas nosso e não é recente. Sabemos que na Grécia e Turquia é pior e sabemos também que remonta já ao Séc.14. Mas os nossos problemas são nossos e cabe-nos resolvê-los.

Enquanto apaixonado por futebol, não gosto da abordagem “en passant” do assunto. Uma espécie de “jogo do empurra”, em que se identifica o problema, assume-se a sua gravidade mas logo se faz crer que ele é sempre da responsabilidade de alguém, não nossa. Não é bonito. Não é, não senhor.

É importante que sejamos sinceros: a responsabilidade direta é, em primeira instância, de quem se porta mal lá dentro. A responsabilidade maior, a moral, é de quem tem a obrigação legal, regulamentar e ética de o evitar, punir e erradicar.

Clubes profissionais, estruturas dirigentes e Estado Português têm, na proporção devida, obrigações repartidas nesta matéria. Para quem está deste lado, isso é claro como a água. Uns já deram alguns passos, outros apenas meia dúzia de palavras. Lamento, mas é curto.

O assunto é chato, difícil de solucionar e moroso, mas está na liderança quem escolheu liderar. Quem escolheu mudar, intervir, melhorar. Pois bem. Mudem, intervenham, melhorem.

A imagem que estamos a passar para fora é feia. Dá sensação de impunidade e mostra inoperância, vunerabilidade e incapacidade para atuar. Isso é a antitese do que se pretende, que é ter mais famílias nos estádios (em segurança), mais patrocinadores, melhores parceiros e uma competição valorizada.

Mas porque palavras leva-as o vento, deixo algumas dicas bem intencionadas: criem (o quanto antes) mecanismos regulamentares que impunham maior responsabilização dos clubes em atos de vandalismo intramuros (como perda de pontos, jogos à porta fechada e multas pesadíssimas); reforcem o controlo à entrada e a inspeção ao recinto antes de cada jogo (inclui revista exaustiva a bancadas, zonas de estar e lazer, sanitários, etc); permitam a abertura de portas com maior antecedência (implica criar mais entretenimento para os adeptos), no sentido de evitar que consumam álcool e que entrem em confrontos nas imediações dos estádios; antecipem, ao máximo, o horário dos jogos: quanto mais cedo, menos conflituosas e alteradas estarão as pessoas; coloquem os adeptos identificados/claques em zonas pré-designadas e distantes daquelas onde estarão os da equipa adversária; expulsem os adeptos “arruaceiros” na hora (no ato) e assegurem-se que, depois, são banidos de vez. Isso consegue-se através de um controlo de identidade mais apertado e com um sistema de video-vigilância com reconhecimento facial (é caro, mas custa menos do que ser atingido, mortalmente, por um very light); dotem stewards e polícia de mais meios e recursos, no sentido de exercerem a sua função preventiva com outra eficácia; criem uma espécie de “Programa Nacional de Educação do Adepto”, trabalhando aí todo o tipo de formação e prevenção. No fim, claro, obtenham a inevitável cumplicidade do sistema jurídico, no sentido de punir exemplarmente crimes desta natureza. Com os energúmenos fora de equação (banidos, presos ou nas esquadras à hora dos jogos), as coisas vão melhorar. Quem levou o escaldão, não repetirá a gracinha; quem vê o peso da sanção, jamais se atreverá a replica-la.

Difícil, não é?

 

Artigo publicado no Jornal A Bola

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