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E SE…

E SE…

Já alguma vez pensaram como seriam as coisas… se as coisas fossem diferentes do que foram? E se nós, todos nós, tivéssemos a capacidade de alterar o passado, com base no que sabemos e conhecemos do presente?

E se tantas guerras que se travaram, por este mundo fora, tivessem sido evitadas? E se muitos conflitos ocos, vergonhosos e desnecessários, tivessem sido sanados, sem banhos de sangue? E se um número sem fim de vidas tivessem sido salvas?

E se… e se… e se…

A dúvida permanece, embora com ela resista uma certeza: sabendo o que sabemos agora, muito do destino traçado antes, teria sido profundamente diferente depois… certo?

O que teria sido diferente se, por exemplo, a tecnologia existisse no desporto-rei, digamos, desde o século passado? Dá que pensar, não dá? Convido então todos os que a hostilizam, todos os que acham que a introdução da tecnologia – de toda a tecnologia – veio destruir a humanidade e a imprevisibilidade do jogo, a seguirem este raciocínio por breves instantes…

HURST, SIM OU SOPAS?

E se o famoso golo de Geoff Hurst, na mítica final de Wembley de 66, tivesse sido escrutinado pelo VAR? Ou pelo olho-de-falcão, uma das técnicas mais credíveis para apurar se uma bola passou ou não, totalmente, a linha de golo?

O 3-2 para a Inglaterra teria mesmo sido validado pelo árbitro assistente do Azerbaijão? Ou o golo não teria sido considerado e hoje, podíamos ter, na história dos campeões do mundo, outro protagonista?

 

A MÃOZINHA MAROTA

E por falar em verdade desportiva, será que a tecnologia permitiria que, em 1986, o famoso golo marcado com a “Mão de Deus”, perdão… com a mão de Diego Armando Maradona, (precisamente contra Inglaterra), tivesse valido?

E, nesse Mundial, será que o golaço de Michel, uma bomba que só parou dentro da baliza do Brasil (bem dentro mesmo), não teria contado? Ou teria sido, como foi, mal anulado pelo árbitro australiano?

Será que, quatro anos antes, no inesquecível Mundial do “Naranjito”, o golo do brasileiro Sócrates contra Espanha, marcado em clara posição de fora de jogo… teria sido validado?

 

O KILLER INSTINCT

E o inimitável Schumacher, fantástico guarda-redes alemão, não teria sido expulso por aquele KO memorável (e quase mortífero) sobre Batiston? E nesse lance, será que não teria sido assinalado também um pontapé de penálti, assim muito, muito grande, a favor da França?

E, já agora, ainda nessa “Copa”… será que o golo anulado à França, contra o Kuwait, após invasão de campo do Príncipe Al-Sababe (que desceu do camarote vip, juntamente com uma série de guarda-costas, para garantir ao árbitro que ouvira um apito antes da bola entrar)… teria sido mesmo retirado? Ou, hoje em dia, episódios lunáticos como esses jamais seriam permitidos?

 

DE OLHOS BEM EM BICO

E o jogo arbitrado pelo equatoriano Byron Moreno (Coreia Sul/Itália, 2002), hoje reconhecido como uma das piores arbitragem da história? Teria mesmo permitido aos anfitriões eliminaram a seleção transalpina?

E falando em história… lembram-se, mais recentemente, do golaço de Lampard, contra a Alemanha (2010), que não contou, porque supostamente a bola, que entrou toda, não tinha entrado?

Iguais a estes, dezenas de outros exemplos, em mundiais e europeus, isto só para mencionar as mais importantes competições de seleções.

Com a tecnologia de golo e com o Videoárbitro no ponto, realidade recente, nada disto teria acontecido.

Não estamos a falar de lances dúbios, de interpretação complicada ou intensidade duvidosa. Não estamos a falar de jogadas cinzentas, complicadas, pouco claras.

Citámos apenas lances factuais, hoje muito claros que, neste futebol – o dos tempos modernos – jamais seriam decididos da mesma forma.

 

O VEREDICTO

O golo de 1966, o da Inglaterra, não devia ter contado mesmo… nem o de Maradona… nem o de Thierry Henry, bem mais tarde, contra a infeliz Irlanda, então afastada do Euro…

 

Schumacher teria visto o cartão vermelho direto (um não, dois ou três de uma só vez), a França teria tido um penálti a favor e a história dessa jogo e desse mundial poderia ter sido diferente… bem diferente.

A Coreia do Sul, seguramente, não teria ganhado à Itália de Roberto Baggio… o golo da França, contra o Kuwait, não teria sido anulado pela ameaça do príncipe… e a bomba de Michel, contra o Brasil, teria mesmo valido.

Quem acha que a tecnologia tira encanto ao jogo aprendeu a ver o encanto do jogo na ótica do erro, da polémica e da confusão, que dura semanas e meses a fio.

Mal.

O encanto do jogo não mora naquilo que de mau fica por contar. Não mora na suspeição constante e na malandragem.

O encanto do jogo mora, ou devia morar, na beleza dos golos, na incerteza do resultado, na perfeição tática das jogadas, no talento incrível dos craques, na mestria dos técnicos, na capacidade de superação dos seus intérpretes…

O encanto tem que morar nas coisas boas do futebol, conseguidas com verdade, com justiça. Com mérito.

E se assim for, e quando assim é… continua sempre a haver muita coisa para falar e para discutir no café, no talho ou ao lado do quiosque.

Há sempre muito que conversar quando o futebol mostra o seu lado melhor.

É preciso acreditar nisso para perceber a mais-valia tremenda que a tecnologia não-invasiva pode trazer ao jogo.

Eu acredito.

 

Foto: Tribuna Expresso

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