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VAR, VAR, VAR… e VAR

VAR, VAR, VAR… e VAR

Não há volta a dar: as coisas não têm corrido bem com um Ferrari que só pode andar a 40 km/h.

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VAR, VAR, VAR… e VAR.

Não há volta a dar.

A tecnologia do videoárbitro continua a ser um dos assuntos do momento do futebol português.

Desta vez, até se percebe porquê.

As coisas não têm corrido bem. Todas as opiniões – mesmo as mais infundadas, disparatadas e acaloradas – convergem e, quando assim é, o mais sensato é que saibamos ouvi-las para, pelo menos, refletirmos.

Errado seria insistir na ideia romântica que o mundo está todo errado, porque tudo está a andar às mil maravilhas.

Não. Não está.

Há aqui várias ideias que convém repisarmos, para tentarmos perceber de onde viemos, onde estamos e para onde queremos caminhar:

1. É indesmentível que a tecnologia já repôs a verdade em centenas de decisões maiores, cumprindo assim a sua grande finalidade. O futebol continua a ser um lugar muito melhor (e bem mais justo) desde que passou a ter o apoio do VAR. Quem pensa o contrário não está a pensar bem. Digo eu.

2 – Há uma diferença enorme entre o instrumento tecnológico, em si, e a pessoa que o opera: o primeiro é o Ferrari, o segundo o condutor. Um raramente falha, o outro erra mais vezes. É importante nunca confundir um com o outro.

3 – O protocolo atual é uma espécie de código de estrada mas em modo “extremamente rigoroso”. Faz uma coisa que, aos olhos de quem está cá fora, é contranatura: limita a condução do bólide a 40Km/H.

Ou seja, colocaram aquela máquina brutal nas mãos da arbitragem, mas logo lhe disseram que, na prática, ela vai ter a mesma eficácia que um Fiat 600. Tanto para dar e tão pouco para usufruir, já viram?

Imaginem a frustração que devem sentir os meus ex-colegas ao testemunharem, em sala, erros que os árbitros cometem em campo e nada poderem fazer para os ajudar.

4 – Uma das várias premissas protocolares é a intervenção basear-se apenas na evidência de erros “claros e óbvios”.

O que se tem visto é que aquilo que é “claro e óbvio” para a arbitragem é muito diferente daquilo que é “claro e óbvio” para a opinião pública.

Para ela, esse pressuposto exige que a intervenção ocorra em lances tão flagrantes que até o polícia de serviço no bar do estádio consegue ver; para qualquer um dos comuns mortais, apenas significa que um erro que toda a gente veja, sinta e reconheça como tal, tem que ser corrigido.

Esta gigantesca diferença de interpretação tem sido um dos maiores motivos de discórdia entre o que a videoarbitragem tem dado e aquilo que se esperava que desse.

Pode passar por aqui um aproximar de ideias que resulte no objetivo que esteve sempre subjacente à introdução da tecnologia: trazer mais verdade desportiva ao jogo. Servir o futebol. E não o ser uma espécie de justificação teórica para não ajudar.

5 – As imagens que os VARs disponibilizam aos árbitros nem sempre são as ideais e isso viu-se claramente na passada jornada.

PEDRO FIUZA/GETTY

Em dois jogos, as que foram visionadas nos écrãs junto aos relvados, podem explicar muita coisa que não correu bem: não mostraram o melhor ângulo, o zoom mais adequado, o ponto de contacto, o momento decisivo para análise.

Se um árbitro, pressionado por todos, com suor a escorrer pela testa e a lucidez afetada pela exaustão física e mental, não dispuser do melhor “output” para decidir… como se espera que decida bem?

Para mau, já basta a dimensão reduzida do monitor que têm à disposição, a qualidade duvidosa da ampliação de imagem que recebem e o facto da chuva cair sobre o ecrã que consultam. Assim não é fácil.

Soluções? VAR e técnico de imagem têm que trabalhar em antecipação: quando o árbitro se desloca àquela zona, tem que saber o que vai ver. Tem que ter as imagens que indiscutivelmente o ajudem a tomar a opção certa.

E o AVAR, em vez de acompanhar esse processo boquiaberto, deve continuar a olhar para as imagens que o operador entretanto repete, para ver se surgem novos ângulos que possam ser facultados, no imediato, ao seu chefe de equipa;

6 – A coerência das decisões é o mais dificil de se conseguir, porque o futebol não é uma ciência exata e os árbitros não são autómatos. Mas é algo que, em determinadas situações-padrão, pode ser alcançado. O truque é continuar a treinar, a preparar, a ver e rever lances, para afunilar critérios uniformizáveis em determinados momentos.

7 – A competência é como a coragem: ou se tem ou não se tem. E este é o filtro que deve continuar a ser feito, sem medos e sem restrições. Há árbitros que sabem ser bons videoárbitros, há outros que não. É duro? É. Mas é verdade.

Na arbitragem, só 20 árbitros é que pertencem à elite, sabem porquê? Porque os outros 4000 ainda não provaram que podiam lá estar. Na videoarbitragem é igual… ou devia ser igual. Não é para quem quer, é para quem pode e já se viu que nem todos podem.

A expectativa é enorme e a arma que foi introduzida para acalmar a confusão não pode ser a mesma que serve para difundi-la.

Há diagnóstico, há soluções propostas, há ideias. Falta fazer.

 

Artigo publicado na Tribuna Expresso
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