Mais do mesmo
O estabelecimento comercial de Manuel Mota foi vandalizado pela terceira vez em sete anos.
Falar das almas perdidas que atiraram as pedras não resolve nada. O que sabemos nós desses heróis de circunstância? Sabemos que são criaturas mal formadas, sem expressão e de mente diminuída. Sabemos que a sua vida inócua só tem brilho quando afeta negativamente a dos outros. Sabemos que a adrenalina dispara-lhes no sangue quando fazem coisas assim, como esta. No fundo, não passam de uns pobres coitados que devem merecer a nossa complacência e solidariedade.
Esqueçamos o caso concreto – chamado à colação por ser o exemplo mais recente e infeliz – e foquemos na questão de fundo: o que leva as pessoas a adotarem comportamentos destes? Será que o tipo que atira o calhau é o único culpado? Será que, às vezes, não estão criadas condições para que atitudes destas aconteçam pontualmente?
Eu acho que sim.
Há dois problemas que o futebol português deve resolver rapidamente: o de terminar com esta infinita sensação de impunidade (para a perceção pública, toda a gente diz o que quer, como e quando quer, sem que a devida sanção seja devidamente dissuadora); e a questão comportamental (mais difícil, porque enraizada no caráter, personalidade e educação de cada um).
E, nesta matéria, há exemplos de sobra que devem ser banidos do jogo, porque o estragam e poluem. Por exemplo, não podemos continuar a ver elementos dos bancos aos saltos, de braços no ar, a vociferar a toda a hora, tudo o que lhes apetece. Já era feio antes, agora é horrível. Não podemos continuar a permitir declarações que, de forma mais ou menos camuflada, insistem em por em causa a verdade desportiva. Não podemos continuar a ter treinadores e dirigentes de instituições respeitáveis a atingirem o carater e dignidade uns dos outros, ora diretamente ora com refinada ironia. Isto é péssimo para a indústria e potencia atos de retaliação cá fora.
Já aqui o disse vezes sem conta: o direito à crítica é inabalável. Os erros grosseiros de todos os intervenientes (todos) devem ser sancionados exemplarmente. Mas a linha que separa essa prerrogativa do prejuízo à imagem do jogo está a ser ultrapassada demasiadas vezes. Pior, está já banalizada. É importante cuidar do resto, mas é fundamental cuidar disto também.