Aos olhos da opinião pública, as arbitragens das últimas jornadas não foram bem conseguidas. As do último fim de semana foram particularmente más. E foram más não apenas em três, mas em vários jogos do nosso campeonato principal.
Esta não é uma constatação maliciosa de um ex-árbitro de memória curta ou mais uma opinião de um clube que se sente lesado. Este nem é o ponto de vista de um jornalista ou comentador que não simpatize com árbitros. Esta é a verdade. É a verdade clara, factual e indesmentível.
Dito isto, é certo que acertar ou errar, estar bem ou estar mal, ter dias bons ou dias maus, faz parte. Acontece a todos. Aconteceu-me a mim várias vezes. Mais do que era suposto.
Mas hoje as coisas estão diferentes. O futebol ofereceu à arbitragem uma ferramenta de luxo, que lhe permite reduzir, consideravelmente, o número de erros cometidos.
Este Ferrari, caído do céu para as mãos dos árbitros, nem teve tempo para testar todo o seu potencial: foi logo circunscrito a um rigoroso “Código de Estrada”, que não o anula totalmente, mas estrangula fortemente:
– “Atenção! Vês o erro no segundo amarelo mas não dizes nada! Vês a falta inexistente que resulta em golo mas não te pronuncias! Vês o lance que parece penálti mas não intervéns! Vês um vermelho mais do que duvidoso, mas calas a boca!”
É… deprimente.
Toda a gente compreende que a máquina tem que ter regras de utilização, mas ninguém percebe que ela não cumpra, quando claramente se impõe, com aquilo que levou à sua criação: servir o futebol!
A diferença que existe entre aquilo que é claro e óbvio para a arbitragem e aquilo que o é para “o resto do planeta” é gritante e isso é algo tem que ser limado. Ou de um lado, ou de outro.
Não é normal que uma entrada grosseira, inequivocamente passível de expulsão para o mais comum dos mortais, não o seja para a minoria que decide; não é normal que um penálti evidente aos olhos de toda a genta não o seja à luz do rigor protocolar; não é normal que uma excelente decisão tomada em campo seja depois revertida por outra péssima, que contraria a expetativa de tudo e todos. Quando isso acontece, o protagonismo muda de mãos e o Ferrari estampa-se de frente.
A arbitragem tem que saber fazer com o protocolo o que fez, há muito tempo, com as leis de jogo: abdicar do seu rigor teórico e da sua letra burocrática e aplicar o seu espírito, em função daquilo que todos vêem, intuem, sentem… e esperam.
Não podemos ser estagiários para sempre. É preciso dar o salto e dá-lo já. Não faz sentido que um instrumento que veio para ajudar seja agora a principal arma de arremesso para difamar.
Artigo publicado no Jornal A Bola