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A questão mais premente do futebol moderno…

A questão mais premente do futebol moderno…
A questão mais premente do futebol moderno: o fora de jogo milimétrico… não é fora de jogo?

DAVE THOMPSON – EMPICS

A pergunta é simples e igual a tantas outras no futebol: uma bola que ultrapasse a linha de golo, por um milímetro, não é golo? Uma rasteira involuntária, cometida por um jogador, não é falta? Uma escorregadela de um defesa que faz cair o adversário, não é punida?

Há aqui um princípio de alguma “injustiça legal”, idêntico a muitos que conhecemos na sociedade. Podemos nem sempre concordar, sabemos que podem melhorar, mas há que respeitar.

Vem esta introdução àcerca da discussão da moda, relativa às tecnologias que existem para avaliar foras de jogo.

Sobre isto, tenho posição bem clara:

– Será que já nos esquecemos das polémicas gigantes que existiam antes de haver linhas tecnológicas? Será que já nos esquecemos das discussões eternas sobre ser inaceitável que o VAR não tivesse linhas credenciadas para avaliar offsides? Será que ja nos esquecemos das suspeitas semanais provocadas pelo facto de haver jogos com “linha” e outros sem referência? Será que já nos esquecemos das guerrilhas que existiram anos a fio, por causa de lances mal avaliados, devido a foras de jogo tão milimétricos como aqueles que agora se discutem?

Bem, eu não esqueci. Nem eu nem a FPF que, procurando ir mais uma vez ao encontro da voz do povo, investiu muito para adquirir a linha tecnológica mais credível do mercado. Sim. A melhor que há. A mesma que é também utilizada pela FIFA e UEFA.

Mas esta ferramenta topo de gama tem uma característica que nenhuma inovação de ponta conseguiu ainda resolver: não se coloca sozinha. Não é 100% automatizada.

Por exemplo, não sabe definir – por si só – qual o exato momento em que um pé ou cabeça começam a tocar na bola quando esta é passada para a frente. Não sabe definir, com exatidão, qual a última parte do corpo do penúltimo defesa, da bola ou do último avançado.

Para terem uma ideia, a “Goal Line Technology” só não depende de dedo humano porque a bola, os postes e as balizas estão carregadas de mil e um sensores que disparam informação automática para um hiper-mega-super relógio do árbitro. A brincadeira custa milhões para ser usada duas, três vezes por época.

Moral da história: em matéria de fora de jogo, é o VAR – em Portugal, na Alemanha ou em Espanha – quem diz ao seu Técnico de Imagem onde deve colocar as tais linhas, com base naqueles que são, aos seus olhos, os pontos exatos.

Ora, como num só segundo cabem pelo menos 25 frames televisivos, uma linha que seja colocada num ponto microscopicamente errado – daqueles imperceptíveis a olho nú – pode significar a diferença entre acertar ou errar na decisão. Involuntariamente.

É dramático? Claro que é! Todos os erros o são e a tecnologia nasceu para anula-los, mas neste caso serão sempre inevitáveis se tudo se mantiver como está.

Portanto, das duas uma: ou algum génio informático encontra o sistema perfeito, retirando esse fardo das mãos dos videoárbitros ou a coisa não tem solução fácil à vista.

AFP CONTRIBUTOR

E não tem porque esta novela recente – que começou no Presidente da UEFA, passou pelo IFAB e atingiu agora as massas (a de se passar a punir apenas FJ com um “corpo de intervalo” ou com “20cms de adiantamento”) -, é bem intencionada mas mal pensada:

– Então alguém acha mesmo que as discussões terminarão aí? Acham mesmo que a contestação não passará para a parte do corpo que não parece estar toda à frente do defesa… ou para a unha do pé, que não parece estar adiantada em relação ao adversário?

Então a discussão não passará da ponta do nariz de hoje para os 19cms/21 cms de amanhã, se a tolerância passar a ser de 20cms?

Mas quem é que nós queremos enganar?

A resposta ideal para isto não é fácil, mas pior são soluções de recurso, propostas por quem nunca calçou um par de botas e pensadas à pressa, só para diminuir o ruído e evitar a polémica. Tenham lá paciência, mas não é reativamente que se resolvem coisas importantes.

Soluções? Bem… acabem com o fora de jogo. Destrói o futebol por completo e a beleza da sua componente tática, mas corta o mal pela raiz.

Mudem a lei/protocolo, de modo a que o fora de jogo passe a ser algo absolutamente factual e objetivo (aceitam-se alvíssaras, porque não é coisa fácil de concretizar).

Até que algo bem refletido (ou milagroso) apareça, qualquer mudança nesta matéria será apenas mais do mesmo: um adiar da discussão. Um adiar do problema. Um adiar da contestação.

Vale uma aposta?

Artigo publicado na “Tribuna Expresso”

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