No domingo, a Roma cedeu empate frente ao Cagliari, em jogo onde mostrou o seu desagrado por uma indicação do VAR, que anulou um golo por alegada falta de um atacante antes da bola entrar. Na semana anterior, os adeptos do Aston Villa ficaram a espumar de raiva depois do videoárbitro propor anulação de golo por eventual fora de jogo. A verdade é que as imagens deixaram dúvidas.
Há poucos dias, a CONMEBOL optou por divulgar os áudios relativos à decisão de anular três golos ao Flamengo (jogo a contar para a meia final da Libertadores). Fê-lo para tentar dar credibilidade às intervenções do videoárbitro que coadjuvou Nestor Pitana, um dos melhores do mundo. Também os adeptos da Chapecoense apelidaram de «roubo de igreja» o golo validado a Bruno Henrique, que permitiu ao Fla sair vitorioso da visita ao lanterna vermelha do Brasileirão. Anteontem, Herrera confessou não compreender o «critério de algumas intervenções» do VAR na La Liga, referindo-se concretamente a um pontapé de penálti assinalado a favor do Valladolid na partida em que os colchoneros empataram. Quem também ficou com os cabelos em pé foram os adeptos do West Ham, perante derrota frente ao Crystal Palace (1-2), alegadamente por influência nefasta do árbitro de sala.
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos que uma pesquisa rápida pelo Google permitiu encontrar sobre «decisões polémicas» nos últimos dias. O VAR, que veio para ficar e é uma das melhores invenções que a tecnologia já ofereceu ao futebol, tem o tal longo caminho a percorrer. E esse é um caminho transversal a todas as ligas e competições onde está agora implementado. A introdução da ferramenta mudou o paradigma do jogo e já todos percebemos isso: criou uma nova forma de decidir; impôs aos árbitros, que sempre decidiram em campo, a obrigatoriedade de passarem a fazê-lo fora dele; obrigou-os a preterir das vivências físicas para video-optarem pela decisão que as imagem impõem, enfim, deu-lhes mais meios mas pouco tempo para amadurecerem a sua nova função.
Também as estruturas – todas as que usam VAR nas suas competições – estão agora a aprender a lidar com este menino, que parece ter nascido sem livro de instruções. Se calhar é por isso que cada uma cuida do bebé à sua maneira. Enquanto umas mostram todas as decisões nos ecrãs gigantes, outras omitem essa informação dos adeptos. Enquanto algumas divulgam áudios das decisões sensíveis, outras escolhem não divulgar o que quer que seja. Enquanto umas comentam lances controversos, outras preferem não falar sobre nenhum. Há todo um leque de opções, usado aqui mas não ali, acolá mas não além. É uma pequena grande confusão, onde cada um parece tentar controlar danos o melhor que pode e sabe, mas em que apenas sobressai uma gigantesca falta de organização e preparação para o que aí vinha.
Era expectável que a viagem fosse turbulenta. Era expectável que gerasse ruído, desconfiança e descrença. Certo. Mas até por isso, convém perguntar: como é que o IFAB, que impõe um protocolo universal, não se antecipou a tudo isso, criando também uma só estratégia de atuação? Algo que não dependesse deste ou daquele mas que estivesse bem acima de penáltis e contestação, em qualquer competição, após qualquer tipo de decisão? Como é que não pensou nisso antes, com cabeça, tronco e membro?
Quando as motivações políticas são mais fortes do que aquilo que verdadeiramente importa, dá nisto.
Enfim.