A época 2017/18 não podia terminar sem mais um relato oficial de uma agressão, num jogo de futebol distrital.
Desta vez, aconteceu num jogo de juniores, da Taça Complementar, organizada pela Associação de Futebol do Porto.
O agressor é um jogador do “CCD Sobrosa”, com apenas 19 anos de idade. Foi detido, identificado pela GNR e notificado para se apresentar em tribunal.
A agressão aconteceu depois do árbitro, o também jovem João Carvalho, ter exibido cartão vermelho direto ao atleta. Este reagiu mal à expulsão e disferiu um soco no juiz portuense.
A equipa de arbitragem recolheu, de imediato, aos balneários e deu o jogo por terminado.
Não há muito mais a dizer sobre estes atos, infelizmente cada vez mais vistos no nosso futebol.
Não há erros, falhas ou más atuações que justifiquem agressões. Não há nem pode haver.
Nada legítima a violência. Se assim fosse… árbitros, jogadores, treinadores e dirigentes não fariam outra coisa. Porque todos acertam e todos erram.
O futebol profissional, pela força do seu mediatismo, continua a ser a face visível da impunidade e a referência maior que motiva atitudes como a deste jovem atleta.
Todos assistimos ao mesmo espetáculo, dias após dia: agentes desportivos, com responsabilidades, a ofenderem-se e a levantarem suspeitas uns em relação aos outros; as autoridades a investigarem, em permanência, alegados comportamentos desviantes, lançando dúvidas sobre a idoneidade de muita gente; grupos organizados de adeptos a agridirem jogadores profissionais, levando as rixas entre eles para as ruas e arredores de estádios e pavilhões; pessoas a serem atropeladas e assassinadas nas imediações de recintos desportivos; a estratégia do “vale tudo comunicacional”, que continua a levantar suspeitas e a apontar o dedo sobre tudo e todos; as ameaças, que são uma constante e as ofensas pessoais, que parecem não ter fim.
Não há limites para a falta de respeito, para o insulto fácil e para a propagação dos rumores. Não parece haver maneira de travar este clima de hostilidade permanente.
Se esta é a montra, se estes são os exemplos que vêm de cima, não é expectável que a um nível inferior – dos distritais ou da formação – as coisas sejam diferentes.
Todos já diagnosticámos, há muito, o problema.
A boa notícia, a que nos mantém com esperança que tudo regressará à normalidade, é que desta vez há sinais muito claros que o poder político, a FPF e a Liga estão cientes do estado atual da situação e dispostos a contribuir, em definitivo, para alterar o rumo da situação.
Isoladamente pouco podem fazer, mas em conjunto ninguém os consegue travar.
Fortes e corajosas alterações regulamentares (sobretudo ao nível do regulamento disciplinar), um firme enquadramento legal (maior celeridade processual e mais rigor na punição de ilícitos) e reforço das ações de sensibilização/prevenção são medidas obrigatórias que l, seguramente, se revelarão ficazes.
O futebol português, cheio de talento e potencial, precisa de paz e de cidadania. Precisa de ética e bons costumes.
Se têm duvidas, perguntem aos verdadeiros protagonistas. Ouçam o que treinadores e jogadores têm a dizer sobre tudo isto…
Foto: DR